Folhetim nº 4
Sarrabulho entra na adega, agora transformada em quartel general das operações, e senta-se numa cadeira pensativo. Tem que falar com Ana Paula e descobrir o porquê de esta ter sido despedida. Olha em volta
num canto da sala, Serôdio prossegue com o inquérito a Toni e do laboratório ainda não disseram nada
o melhor mesmo é ir à procura da suspeita. Levanta-se e com alguma hesitação volta para a rua onde continua a chover sem parar.
Após algumas voltas à procura da R. das Laranjas, onde mora Ana Paula, lá consegue encontrar o nº 5. A campainha soa irritantemente e segundos depois Ana Paula aparece à porta. Sarrabulho entra e é conduzido a uma saleta de aspecto simpático e decorada em tons de verde. Ana Paula serve um chá, que com este tempo é mais do que bem vindo a Sarrabulho, que apesar do guarda chuva se encontra encharcado e enregelado. Depois de uns breves momentos de tagarelice acerca do tempo, Sarrabulho inquire Ana Paula acerca dos motivos do despedimento. Um silêncio súbito invade a saleta verde, a figura rígida de Ana Paula de repente sofre um abalo e curvando-se irrompe num pranto convulsivo, iniciando assim o seu relato. Carlos na quinta feira passada tinha-a encontrado a mexer na bolsinha onde guardava o dinheiro que tinha levantado do banco para pagar os salários dos seus empregados, posto ito Ana Paula não pôde fazer mais senão confessar a Carlos que tinha sido ela também que tinha feito desaparecer algum dinheiro da caixa mais do que uma vez, na altura reagiu mal ao despedimento, mas agora, diz estar profundamente arrependida das suas acções. Após uns minutos e algumas perguntas mais Sarrabulho abandona a casa de Ana Paula em direcção à tasca do Chico, está na hora de falar com ele.
18:32 o telemóvel toca
é do laboratório!
RELATÓRIO DA AUTÓPSIA
NOME: Carlos Miguel ---------------------- DATA NASCIMENTO: 16 7 - 1963
DATA INCIDENTE: 7 2 2006 --------------DATA AUTÓPSIA: 8 2 - 2006
DATA DO RELATÓRIO: 8 2 2006 ------------------ AUTÓPSIA Nº: 15/M3F
LOCAL DA MORTE: Farelos -- LOCAL DA AUTÓPSIA: Inst. Med. Legal de Areias
HORA APROX. MORTE: 22:00
RELATÓRIO FINAL / CERTIDÃO DE ÓBITO:
Morte resultante de asfixia (privação de oxigénio ao cérebro) devido a estrangulamento evidenciado pela recente fractura do osso hióide, do pescoço e hemorragia dos tecidos moles que se estende de forma descendente ao nível da cartilagem direita da tiróide. A autópsia revela frácturas ósseas, costelas fracturadas, contusões ao nível do abdómen médio, costas e nádegas, extendendo-se ao flanco esquerdo, abrasões na zona lateral das nádegas. Contusões na parte traseira das pernas e joelhos, lacerações e cortes superficiais nos 4º e 5º dedos da mão direita. Evidências de alergia à lactose reveladas pelo inchaço abdominal. Causa provável: leite de côco ingerido num período recente antes da morte. Não evidência de ferimentos defensivos ou causas naturais. Forma de morte homicida.
FIM DE RELATÓRIO.
RELATÓRIO ANALÍTICO A PROVAS
CONCLUSÕES: após análise ao material encontrado na cena do crime conclui-se: Material de origem orgânica, vegetal e animal. Estrume de burro misturado não naturalmente com palha alimentar para burros.
FIM DE RELATÓRIO.
Sarrabulho anima-se, finalmente alguma coisa em concreto, embora neste ponto nada continue a fazer sentido mas algumas pontas já não estão soltas
Resolve ir até ao largo ao encontro de Chico.
18:52
Entra na tasca do Chico e pede-lhe amávelmente que lhe explique onde e com quem esteve na noite anterior por volta das 22:00h. Chico não tem alibi, diz que fechou o café por volta das 21:00 como sempre e rumou a casa sozinho. Afirma que não matou Carlos Miguel, apesar das desavenças lá no fundo nutria um certo respeito pelo concorrente e seria incapaz de cometer tal disparate. Já a sua prima, cozinheira de Carlos, afirma, andava possessa com o despedimento e a prometer vingança.
Entram vários clientes na tasca e Chico desculpando-se afasta-se para os atender. Sarrabulho decide ir ter com Serôdio para saber o resultado do inquérito a Toni.
19:15
Serôdio aproxima-se de Sarabulho quando este chega à adega, acabou de encontrar na cozinha de Carlos, debaixo do fogão, um papelito manuscrito de uma receita. Até aí nada de novo a não ser o facto de a letra ser feminina
e um dos ingredientes ser leite de côco
Serôdio prossegue no seu discurso dizendo que a conversa com Toni revelou que este não tem alibi para a noite anterior, mais uma vez embebedou-se na tasca do Chico e só se lembra de sair da tasca e mais nada até hoje de manhã quando acordou no barracão do milho na eira, do outro lado da aldeia, pouco antes de Sarrabulho chegar a Farelos. Ávido por se destacar Serôdio acredita que Toni esteja a mentir, porque afirma que Toni quando lhe dizia onde tinha supostamente acordado, olhou para cima e para a esquerda e segundo os livros de psicologia que tem andado a ler, Toni não foi buscar a informação à memória mas sim à zona criativa do cérebro, o que prova que mentiu.
Sarrabulho discretamente revira os olhos e pensa que este guarda anda a ver filmes a mais, no entanto há sempre o factor instinto e Serôdio até pode ter alguma razão
19:30 Sarrabulho retira-se para uma zona ao canto da adega onde pode pensar com mais calma, está muito perto de chegar ao final. Sente-o. Só falta analisar o conjunto de evidências e unir as peças do puzzle. Chama Serôdio e incumbe-o de arranjar uma mesa grande e 7 cadeiras a serem colocadas no centro da adega e chamar um a um, todos os seis suspeitos e o prior para se encontrarem ali as 22:00 em ponto. Até lá tem que resolver o enigma. Pois quando chegarem a farsa será revelada
Faz... Faz... Faz,
faz hoje 7 anos do massacre de columbine.
A comer peixe grelhado com batatas cozidas.
E putos suicidas, que vêm bicar-te uma existência após "aquilo" das pitas e pitos,
género:
"Caro professor, na minha opinião de aluno que pensa por ele proprio acho que a biografia civil duma poetisa não interessa nada para uma aula de portugues, pois a biografia espiritual que é que a que realmente interessa está nos poemas, nao devemos vasculhar no lixo dos outros para o mostrar a alguem...."
Ide engulir farpas de montanhas mágicas
e enganar-vos com as rotações fantásticas
de máquinas xpto de lavar roupa,
sim os putos crescem e querem casa.
Esperma de um golpe publicitario da tvi,
de facto o rapaz continua a aparecer na novela...
O morto das auto-estradas do amor-paixão-tesão,
diz o puto:
"e quando na minha turma tava tuvo a ver na tv o funeral do puto
viro-me eu e digo "quando foi a madre teresa de calcuta não fizeram tanta algazarra..", ia sendo fuzilado por uma camada de betos."
Betos pós-guerra do 25 de abril, e a marcha homossexualite da cena.
Que triste figura fazem os eles
num poema ou num romance.
De poder ilusório
há muito dos livros
pela bênção de quem os pensar.
...nada muda. Não pode.
Poderão, se tanto, mudar as regras
eu por exemplo ando nú em casa
e sou apanhado de x em x tempo.
...e limitam.
Toda a vida de outros
que falam de outros lugares,
que falam de outras pessoas.
...está cansada
do poder e da vaidade
que em nome dela se praticam.
...a sua vida
a policie e interprete.
...confinada aos laboratórios,
ao exercício interminável do faz-de-conta
e ao parece bem.
...perderá o seu domínio.
sobre as ondas do mar
com a chegada do vento;
na roda da tortura, comecem
os tendões jamais se partirão;
será destruída a fé
com mél de puta,
e, como unicórnios,
de cornos unos e se fossem mais,
seriam divididos no seu domínio.
Caralhos polidos,
fodas de liricos idos,
Decorariam-se odores
em esperma branca.
fluido e envolvente,
Tetas inauditas,
orgasmos infinitos,
em gritinhos de pompa oriental,
Tudo aí à alma
na cama na calma
dum doce natal.
Luxo, beleza e lagonha.
Amor!
cogitar em conversas distantes
não sei bem o quê,
putas esfaqueadas à noite
ela encalha no escuro
e ouve-se um andar
chaqui-chaqui chará-quiii.
...vozes.
Ela enconha o que dizem,
de corpo cansado.
raramente com os seios no sítio.
Tetas de maus humores
e de cona insuspeita
a voar e estendida no molho de pernas
que a cruzam
e lhe esfregam o sexo na boca,
em cenas de ciúme,
em prazer fodível,
alicersado com música que toca
um bolero dum incêndio de escavação
dum prazer da reconciliação
de ser uma puta do caralhão!
E subitamente em obsessão dentro da sombra,
sai um emaranhado duma aranha-mãe
parece gorda, mas não é,
é esporra mãe!
Se abrisse os olhos ter-se-ia, só para si
em cona de metano
embriagada em moca,
cozida à costura da espinha dorsal
em pensamentos contabilisticos da vil profissão
notas às cores alinhadas, elegantes, vincadas
com o lado de fora,
chamativo e em chamas
e o cliente vem e paga
para por o seu caralho dentro dela
e lá vai ele,
revirar para encontrar a arte de dentro.
Simples e desafectada
se revê, em espessura própria,
explorada deste universo que receia não ser visto.
Os gordinhos feios fodem as putas
e são homens másculos porque têm buracos desvios, das infracções à norma,
Aparecendo vestidos mais tarde
nas suas casas de família de pouca pila
com cores imprevistas e perturbadas
vacas estatuais e pranhas os esperam
para por-lhes lá dentro
a tal papa de maizena
e os putos do papá
são apenas buzinas inesperadas.
Beijo amor.
...de mim
para mim seu filho da puta
a tua mãe manda dizer que te quer em casa cedo hoje
e eu já cortei o caralho ao porco do paneleiro do teu velho
as tuas irmas andam a dar o cu
vou te partir o canastro
em forma de "ganda toni"
pede-me desculpas
eu desisto
pede-me desculpas
vais para a morgue
e agora vou matar esse boi
és ... mulher?
A arte tangida
nos joelhos
escarpada em dor
prossegue sozinha
de porta a porta
escondida no rasto
da boca
colhida em calda;
acesa a rosa no seu
mastro... vibrador.
And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
é pois relevante à tua noçao de beleza nem indulta.
Bate-me, insulta-me, coisa-me!
...é esmegma?
é massa que reboca a casa-bordel,
em centelhas da publicidade de recrutamento de escravinhas.
Candidatas enviem email para um mijar na sanita
e que seja anti-higienico...
Mijando nús e sentindo as pingas nas pernas.
Se eu fosse uma actriz porno chamava-me urectra franklin
"queres vir às putas?"
E traz a nova àgua vidago sem gás com sabor ao caralho que te foda
ou agora precisas que a merda da água tenha de ter sabor
para beberes ó seu grande filho da puta.
Queres sabor bebe cerveja seu betinho da merda
com a mania que és audavel e a humanidade evoluiu com água a saber a merda
ou achas-te um macaco especial...
"vazelina maria ines so doeu a primeira vez",
podias ser a minha catarina furtado adolescente, a nadar nua num lago...
Os cavalinhos correndo,
E nós, caralhões, comendo...
...falando grosso, avacalhando-se...
O rui veloso também é bom
ROCK IN RIO : TOU-ME A CAGAR.
torno-as velhas, tão velhas em carunchos.
ROCK IN RIO : TOU-ME A CAGAR.
Antes melhor fora
Que voltasse bêbedo!
Nú e escondido,
só para eu o violar!
Com um pauzinho de supermaxi nesse rabo,
lavadinho com águas delirantes!
E acetona no cabelo,
puta loira e cara, é a lógica do pai nosso que estais no céu,
numa coma vaga e melancólica de velhas com estalactites
a apertar o útero fora de prazo,
na igreja das igrejas,
ladeadoras da paisagem do homem-sexual,
ainda se fodesses na prada
dos sorrisos de sombra,
dos reis de espanha,
no lago com patos,
em aroma de foda de pato ou ganso.
Com ferocidade silenciosa devorando
um grito... em sangue... oculto e rente
e entretanto,
mil caralhos vis,
brandiam as glandes atomatadas,
atraindo o ânus negro,
e golpeavam-lhe... muito e muito.
Evolam-se. Eczemas de danúbio. São volutas
Deputadas com incenso. Inalo-as para dentro,
rompo-lhes a cervical,
dobro-as em felação,
com lambidelas velozes de ópios.
ossos que brilham no escuro
em ilúcidas pancadinhas ao raspar os nossos ossos,
Alucinantes.
Pimp my ride,
às touradas vão só seres com cornos
estranhos ávidos soltos ao céu brumoso em dor universal, ali
na cona da mãe, que pariu
nos alicerces
ainda quentes
acabados de receber o sol que não morre,
da doença da volúpia ardente... esparsa... masturbação,
e quero tanto, algo assim, percorrendo-me fora-adentro
sem remorso vão...
Amargo e quente,
gota a gota, do bichinho com cauda,
no chão.
A vida corre,
a vida corre-me, em acre sabor de chão,
e vou pisando os bonequinhos
carcomidas de sono intemporal, nesse limbo
enquanto sem útero,
e vou matando-os
adormecendo-me o ansiado gosto por tudo,
e quase todos.
Descartava os pintelhos na afloração do caralho
e na laca sêca da minha baby
lá pela tardinha encontrava sempre crédito
e ela fazia o movimento de foda,
dentro e fora
com blues no aparelho.
Eu disse a noite toda
"isto é de loucos" com muito speed
e "olhem para mim, é sem drogas..."
a outra teve um filho assim,
sem drogas...
E chovia, e tinha boleias
para ver cedo na TV
o mickey mouse, e desenhos da Hanna Barbara
e à noite, filmes fuck.
E antes de foder, foder muito,
andava na nuvem do electro,
com muitas cenas despidas a acompanhar,
havia um guitarrista com barba por fazer
lá ao fundo, que não sabia tocar,
com ar de cenário degradante
pénis meu!
Pénis meu!
Peguei em sarrabulho
enjoei-me de copos de vidro
e fui parar a um bar de aldeia
comandado por meninos de bem de lisboa
e gostei. Ofereceram-me bolinhos catitas
e esfreguei-lhes sorrisos nas suas pilinhas,
e na coninha doce duma fémea.
Apanha-me e levame para a terra das ovelhas
com vaginas de cavalo... negras!
Jogos de pretos que batem em pretos,
tudo à chuva com vidros no chão
acostumas-te a coçar a coçar a coçar, as costas.
Óculos de aviador, camisa branca, terno de salazarista
gel de caviar, e namorado de 30 brincos na orelha
e saltinhos com bróculos, e e e e e e e e e e
manager feio, dono da disco feio,
meninas feias, putas dos advogados feias,
e bates palmas mas não uivas
isso é para os cães que andam na merda das mentiras,
e derretes lá fora e aqueces cá dentro,
e despes-te no açucar, eu já.
Bate o pé filho da puta,
o vinho deixa-te louco,
aquela puta faz-te broches justos
o tamanho e a largura baby,
pensas que é ok?
Conheces boa bebida, com mescalina?
Para foder esse cérebro fodido com a música do tempo,
ou dos filmes e da músiquinha nova na rádio?
Dos downloads ilegais ou do simplex do sócrates?
A tua vida é uma merda,
a tua vida é uma mentira,
baby do caralho, e sim,
enche-me a glande com açucar,
para te dar coisas doces.
Procissão à capoeira das putinhas que vestem um preto e um branco,
vou apanhar sol no peito,
um embuste colorido, com shampoo no cabelo
verdadeiro e direitinho,
e ponho as roupas que estiverem contorcidas toda a noite,
para nenhuma mulher me violar com o verbo do não,
e se a ouvirem gritar, não me culpem
não é culpa minha,
sou uma árvore que grita
e ela sentou-se na árvore,
o meu caralho é um caralho assassino...
eu tenho blues lá em casa, depois do chá, antes da masturbação da manhã.
Folhetim nº3
16:23 Sarrabulho caminha em direcção à igreja, após ter incumbido o Guarda Serôdio de interrogar e apontar o depoimento de Toni, espera que o Padre Jacinto, possa ter algumas respostas para lhe dar. Entrando na nave principal sente imediatamente uma paz avassaladora que lhe acalma o espírito, embora não seja um homem religioso, d vez em quando é sempre bom poder estar num local onde possa baixar as guardas ainda que seja apenas por breves instantes. Calmamente vai percorrendo passo a passo o caminho até à sacristia onde espera encontrar o Sr. Prior. Gentilmente bate com os nós dos dedos à porta e aguarda, quase imediatamente a passagem é-lhe cedida por um vigoroso - Entre!
Ao vê-lo entrar, Padre Jacinto ergue-se para o cumprimentar amistosamente com um forte aperto de mão e com um leve acenar de cabeça e gesto com o braço indica-lhe uma cadeira para que se sente.
- Detective, em que lhe posso ser útil?
- Sr. Padre, tenho algumas perguntas sem respostas, gostaria que me ajudasse a entender umas coisas.
- No que puder ajudar
- Padre Jacinto, quem além de Toni, poderia ter motivos para fazer mal a Carlos Miguel ou que não gostasse dele? Mesmo que fosse uma coisa irrisória, que ache que não é motivo suficiente para matar. Quem são os inimigos de Carlos?
- Bom, isso que me pede é algo complicado, pois não conheço ninguém que lhe quisesse mal a esse ponto, mas
. Há uma pessoa com quem Carlos não falava, aliás era mais o Chico que não lhe falava a não ser para discutir, desde que Carlos abriu o café mercearia que o Chico, que é dono da tasca do largo se aborreceu com ele, acha que Carlos abriu ali o negócio só para o levar à ruína, ainda não há duas semanas tiveram uma discussão feia no largo, o Chico berrava que lhe batia e que ele o tinha desgraçado, sei lá mais
olhe foi prá li uma confusão, teve que vir a Ana Paula, a ex-cozinheira do restaurante de Carlos, que também é prima do Chico em segundo grau, separa-los. Mas o Chico é boa pessoa na realidade. Homem pacato, nunca causou problemas a niguém, foi criado por um tio que lhe deixou a tasquita quando faleceu e assim tem vivido a vida. Nunca se casou e apesar de ainda ser novo, anda na casa dos 45, recebe o apoio das limpezas da AAIP em casa, até fui eu que providenciei isso ao rapaz, senão vivia num pardieiro
- E quanto a Abílio Macieira Sr. Padre? O que me pode dizer sobre ele?
- O Abílio, era vizinho do Carlos como o Sr. sabe, trabalha na lavoura nuns bocados de terra que tem ali para baixo passando a eira, vai vendendo umas frutas e vegetais que cultiva, na feira ao fim de semana, enviuvou novo, há uns dez anos, a mulher caiu nas escadas da rua e ali ficou, na altura foi um choque para todos, surpreende-me que ainda não soubesse disto detective, na altura até polícia meteu ao barulho, achavam que o Abílio tivesse morto a mulher, mas nunca encontraram nem motivo nem provas para o suposto crime. Foi uma queda estranha, mas estas coisas acontecem e nem sempre envolve maldade. As escadas estavam molhadas e a mulher de Abílio escorregou e bateu com a cabeça num dos degraus. Na época espalhou-se o boato que a tinha morto poerque era estranho que em plena tarde de Agosto as escadas tivessem molhadas a tal ponto que ela escorregasse até porque a tinham visto de manhãzinha a lavá-las. Enfim o povo gosta de falar e as vezes não mede as consequências do tamanho da lingua
- E quanto a namoradas? Alguma que se conhecesse?
- Carlos era um homem discreto, não lhe conhecia ninguém, mas andavam por aí uns zunzuns de que teria alguém, agora quem
realmente não sei. De Abílio é que se anda a dizer que tem um fraquito pela rapariga que ajuda nas limpezas, boa moça mas muito nova para o Abílio, já tentei falar com ele a semana passada, porque a moça é um alvo fácil nesta terra e simpatizo com ela, ajuda muito aqui na igreja com as crianças aos sábados
mas Abílio negou disse que gosta dela como uma filha, claro que não acreditei mas parece-me inofensivo. Pobre moça apareceu por estas bandas há uns anos vinda, só deus e ela sabem de onde, nunca o revelou. Não deve ter tido uma vida fácil, dizem as más linguas que terá tido um filho mas que este morreu, não seise é verdade ou não, nunca lho perguntei
-Padre Jacinto há pouco falou numa ex-cozinheira de Carlos?
Porquê ex?
- Sim , Ana Paula, foi cozinheira no café de Carlos que também servia algumas refeições, desde que abriu, mas há coisa de uma semana Carlos despediu-a
- E porquê?
- Meu filho a isso já não posso responder, os motivos que tenho conhecimento foram-me ditos por ela em confissão e como tal estão protegidos perante os ouvidos de outros que não deus. Lamento não poder informar mais, tente falar com ela, pode ser que o ajude
- Só mais uma pergunta Sr. padre e depois deixo-o continuar com os seus afazeres, tem alguma ideia do que poderá ter acontecido ao vinho que estava na pipa? Sabe que o vinho morangueiro é ilegal
- Sim eu sei mas Carlos apenas fazia para consumo pessoal todos os anos enchia umas quantas pipas para beber ao longo do ano, até à próxima vindima, era uma espécie de hobbie que ele tinha, tratar da vinhazita. Que agora seguramente morrerá, porque o Joaquim não tem nem jeito nem paciência para isso e forreta como é não paga a ninguém uns trocados para lhe arranjar aquilo. Enfim é assim a vida.
- Muito obrigada não o maço mais, já recolhi algumas informações preciosas graças a sí. Até mais ver Sr. Padre.
- Até logo detective.
Sarrabulho abandona a igreja com algumas dúvidas esclarecidas mas muito mais confuso, neste momento todos parecem ter motivos para ter assassinado Carlos Miguel. Espera dentro de horas já ter o resultado da autópsia ou pelo menos parte, será que Serôdio conseguiu falar com Toni? Ainda tem que ir à procura da tal Ana Paula quel terá sido o motivo do despedimento, guardado a sete chaves pelo Padre Jacinto? Sarrabulho toca com o guarda chuva na ponta do sapato pensativo, este caso não parece perto da solução.
Uma chuva miudinha começa a cair de mansinho, Sarrabulho abre o guarda-chuva e afasta-se pela rua for a, não há vivalma à vista
São 17:05 da tarde de quarta-feira.
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