Terça-feira, 11 de Maio de 2004
Entrei no hospital a correr.
Ofegante, completamente despenteado e com o cansaço estampado na cara, deparo-me com uma pequena sala repleta de doentes e aleijados.
As lamúrias e gemidos criam um ambiente constrangedor naquele cubiculo abafado e mal iluminado.
Eram 17H39 e o anoitecer já pesava no céu.
Atravesso rapidamente a sala e deixo para trás aquela atmosfera húmida e constipada.
Passo o corredor, entro no elevador lá ao fundo e subo ao 4º piso. Procuro pelo quarto 4-A e já estou atrasado: os 15 minutos que me restam para ver a minha mãe hoje no horário das visitas esgotam-se velozmente.
"4-A cama 114..." repito-me constantemente. Ando às voltas sem o encontrar.
Avisto uma enfermeira, que passa apressada mas prontamente me indica o caminho.
"Cá está! já por aqui tinha passado..."
Entro e dirijo-me à cama 114. Está um aglomerado de gente em volta da minha mãe!
Pula-me o coraçao! Temo que algo de grave lhe tenha acontecido.
Acerco-me do local mas não reconheço ninguém. Furo entre as pessoas que, algo incomodadas se afastam para me dar passagem. Olho o rosto do doente e não é a minha mãe!!
Deitado naquela cama junto da janela está um homem pálido e de poucos cabelos. Um fino tubo de souro entra-lhe pena narina, e um outro liga-lhe o braço direito a uma máquina.
Fala com dificuldade para as pessoas que o rodeiam. Incrédulo, escuto algumas palavras:
"...a irmã Júlia coitadita, também não está muito bem. É aquele problema nos ossos... mas é assim meus filhos.. sinto que chegou a minha hora..."
"Oh! Não diga isso tio! Por favor, não seja pessimista! Se nunca o foi até agora..."
"Pois vô Almiro! Vai ver que melhora depressa!"
E no meio das vozes de desagrado, o velhote vira-se para mim e larga um sorriso...
Uma senhora de meia idade cai nos meus ombros a chorar.
Um clima de consternação apodera-se do local. Vejo caras enjoadas, e um crescendo de coluços de murmúrios penetram-me os ouvidos.
Até um anterior bip bip bip... se tornou num biiiiiiip constante.